V DOMINGO DA QUARESMA – ANO B
21 março 2021
AS LEITURAS DO DIA
Jer 31, 31-34: Estabelecerei uma aliança nova e não recordarei os seus pecados.
Salmo, 50: Dai-me, Senhor, um coração puro.
Heb 5, 7-9: Aprendeu a obediência e tornou-se causa de salvação eterna.
Evangelho Jo 12, 20-33: Se o grão de trigo, lançado à terra, morrer, dará muito fruto.
A PALAVRA É MEDITADA
Queremos ver Jesus. Grande pedido dos que procuram sempre, pedido que sinto meu. A resposta de Jesus dá olhos profundos: se me quereis compreender, olhai o grão de trigo; se me quereis ver, olhai a cruz. O grão de trigo e a cruz, duas imagens como síntese ardente do evento Jesus.
Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto. Uma frase difícil e também perigosa se acontece mal, porque pode legitimar uma visão analgésica e infeliz da religião.
Um verbo salta logo em evidência pela sua carga emotiva: morrer, não morrer. Hipóteses ou necessidade, parece escurecer tudo o resto, enquanto ao invés é o engano de uma leitura superficial. A ação principal, o objetivo para o qual tudo converge, o verbo que rege toda a construção é «produzir»: o grão produz muito fruto. O acento não é sobre a morte, mas sobre a vida. Glória de Deus não é o morrer, mas o muito fruto bom.
Observemos um grão de trigo, uma qualquer semente: nenhum sinal de vida, uma concha apagada e inerte, que na realidade é um cofre, um pequeno vulcão de vida. Caído na terra, a semente morre na sua forma, mas renasce em forme de germe, não alguém que se sacrifica pelo outro - semente e germe não são duas coisas diferentes, são a mesma coisa, mas tudo transformado em mais vida: a corola muda-se em flor, a flor em fruto, o fruto em semente. No ciclo vital como no espiritual «a vida não é tirada, mas transformada» (Liturgia dos defuntos), não perda, mas expansão.
Cada homem e mulher são grão de trigo, semeado nos sulcos da história, da família, do ambiente de trabalho e chamado a dar muito fruto. Se és generoso de ti, de empo e coração, e inteligência; se te dedicas, como um atleta, um cientista ou um enamorado ao teu objetivo, então produzes muito fruto. Se és generoso, não perdes, mas multiplicas a vida.
A segunda imagem é a cruz, a imagem mais pura e mais alta que Deus deu de si mesmo. «Para saber quem é Deus devo só ajoelhar-me aos pés da Cruz» (Karl Rahner). Deus entra na morte porque a vida vá para cada seu filho. Mas da morte ressurge como um gérmen de vida indestrutível, e arrasta-nos para fora, para o alto, consigo. Jesus é assim: um grão de trigo que se consuma e floresce; uma cruz, onde já respira a ressurreição. Eu sou cristão por atração: atrairei todos a mim. E a minha fé é contemplação do rosto de Deus crucificado.
«A Cruz não nos foi dada para a compreender, mas para que nos agarrássemos a ela» (Bonhoeffer): atraído por qualquer coisa que não compreendo, mas que me seduz, agarro-me à sua Cruz, caminho atrás de Cristo, morrendo eternamente, em eterno ressurgindo.
A PALAVRA É REZADA
“Cria em mim ó Deus, um coração puro. Dá-me a alegria de ser salvo...”
Manda-me Filipes e Andrés na tua misericórdia, os quais me mostrem o rosto de Jesus, ou se é a tua vontade, que seja eu para os irmãos Filipe e André.
Por isso abre-me os segredos do teu coração, da tua coerência, e da obediência ao Pai.
A tua Lei, o Espírito Santo, habite no meu coração e o conforme à tua fidelidade.
E quando também eu com fortes gritos e lagrimas elevo a ti, no Espírito, a minha oração torna-me perfeito na obediência, isto é, concede-me seguir Jesus até ao fim, vença sobre os meus medos e malicias a força do Espírito Santo e me seja dado amar até ao fim, a ti, Pai que me criaste e tornaste filho no Filho.
Ámen.
(In, Qumran2.net e LaChiesa.it - tradução livre de fr. José Augusto)