Medos, temores, relutâncias, tentações...
A experiência do profeta Jonas
No discernimento vocacional misturam-se com frequência grandes ideais e medos, desejos de resposta e temores, relutâncias, tentações. Falemos disso!
Muitos me escrevem apresentando-me saltos, grandes ideais de sequela e desejos de resposta generosa a tal vocação, mas também tantos medos e temores ligados a âmbitos bastante recorrentes (a afetividade, a contrariedade dos pais, a atração dos bens materiais, o desafio do desconhecido e do futuro, um sentido de indignidade e inferioridade pessoal, o medo de errar …, o temor do “para sempre”…).
Trata-se a dizer a verdade, de dinâmicas que sempre um pouco “atormentam” e “tentam” o chamado, metendo-o à prova e sobretudo verificando a sua fé.
A vocação de facto é primariamente questão de fé!
Proponho-vos hoje a este propósito a antiga e sempre nova história vocacional do profeta Jonas, que interpelado e envaido por Deus a pregar a conversão aos habitantes de Nínive, continua a escapar confiando apenas em si mesmo.
Nos textos bíblicos o profeta aparece numa realidade dramaticamente “enrolado sobre si mesmo “, agarrado aos próprios sonhos e convicções, preocupado com o seu projeto de vida.
As narrações, um tanto ou quanto irónicas, mostram-nos toda a sua obstinação, a pouca Fé, o seu não confiar no Senhor, o seu auto comiserar-se paralisante, o seu pôr-se em fuga.
Uma recusa cega-o e endurece-lhe o coração impedindo-lhe de entrever o grande projeto de amizade e confiança e amor que o Senhor quer instaurar com ele, e com todo o homem. Nem sequer percebe, nem lhe importa, como o Senhor se possa servir dele para a salvação de milhares de pessoas “que nãos abem distinguir a direita da esquerda”!
Convido-te a ler a história de Jonas, de verdade estupenda e atual e a confrontá-la com a tua história, as tuas obstinações, as tuas recusas tolas e as fugas, as tuas visões limitadas e egoístas, a tua pouca fé, e também a avaliar as consequências (para ti e para muitas outras pessoas) de uma recusa ao Senhor.
A vocação, lembra-te, é sempre uma questão de fé!
Frei Zé Carlos
Do livro do profeta Jonas (1,1-17.2,1.11).
Foi dirigida a Jonas filho de Amistai esta palavra do Senhor: “Levanta-te, vai a Nínive a grande cidade nela proclama que a sua malícia subiu até mim”.
Jonas, porém, pôs-se a caminho para fugir para Társis, longe do Senhor. Desceu a Jafa, onde encontrou uma nave que se dirigia para Társis. Pagado o preço do transporte, embarcou com eles para Társis, para longe do Senhor.
Mas o Senhor desencadeou no mar um forte vento e aconteceu no mar uma tempestade tal que a nave estava para se afundar. Os marinheiros amedrontados invocavam cada um o próprio deus e lançaram ao mar quanto tinham na nave para a aliviar.
Entretanto, Jonas, desceu para o lugar mais fundo da nave, tinha-se deitado e dormia profundamente.
Aproximou-se dele o chefe da equipagem e disse-lhe: “O que tens assim tão adormentado? Levanta-te, invoca o teu Deus! Talvez Deus se ocupe de nós e não pereceremos”. Depois disseram entre eles: “Vinde, lancemos a sorte para saber por culpa de quem é que nos aconteceu esta desgraça”.
Deitaram a sorte e a sorte caiu sobre Jonas. Pediram-lhe: “Explica-nos, portanto por causa de quem sofremos esta desgraça. Qual é a tua profissão? Donde vens? Qual é a tua terra? A que povo pertences?”. Ele respondeu: “Sou Hebreu e venero o Senhor Deus do céu, o qual fez o mar e a terra”.
Aqueles homens ficaram cheios de grande temor e perguntaram-lhe: “O que fizeste?”. De facto, aqueles homens vieram a saber que ele fugia do Senhor, porque ele lhes tinha contado. Eles disseram-lhe: “O que devemos fazer de ti para que se acalme o mar, que está contra nós?”.
De facto, o mar enfurecia-se sempre mais. Ele disse-lhes: “Tomai-me e lançai-me ao mar e se acalmará o mar que está contra vós, porque eu sei que esta grande tempestade vos atingiu por minha culpa”.
Aqueles homens procuravam à força de remos alcançar a praia, mas não conseguiam porque o mar crescia sempre mais contra eles.
Então imploraram o Senhor e disseram: “Senhor, faz que nós não pereçamos por causa d avida deste homem e não nos atribuas o sangue inocente pois que tu, Senhor, ages segundo a tua vontade”.
Tomaram Jonas e lançaram-no ao mar e o mar acalmou a sua fúria. Aqueles homens tiveram um grande temor do Senhor, ofereceram sacrifícios ao senhor e fizeram votos.
Mas o Senhor dispôs que um grande peixe engolisse Jonas; Jonas ficou no ventre do peixe três dias e três noites. E o Senhor ordenou ao peixe e ele vomitou Jonas na terra seca.
Do livro do profeta Jonas (4,1-11)
Jonas ficou profundamente aborrecido com isto e, muito irritado, dirigiu ao Senhor esta oração:
«Ah! Senhor! Porventura não era isto que eu dizia quando ainda estava na minha terra? Por isso é que, precavendo-me, quis fugir para Társis, porque sabia que és um Deus misericordioso e clemente, paciente, cheio de bondade e pronto a renunciar aos castigos.
Agora, Senhor, peço-te que me mates, porque é melhor para mim a morte que a vida.» O Senhor respondeu-lhe: «Julgas que tens razão para te afligires assim?» Jonas saiu da cidade e sentou-se a oriente da mesma. Ali fez para si uma cabana e sentou-se à sua sombra, para ver o que ia acontecer na cidade. O Senhor Deus fez crescer um rícino, que se levantou acima de Jonas, para fazer sombra à sua cabeça e o proteger do Sol. Jonas alegrou-se grandemente por aquele rícino. Ao outro dia, porém, ao romper da manhã, enviou Deus um verme que roeu as raízes do rícino, e este secou. Quando o Sol se levantou, Deus fez soprar um vento quente do oriente, e o Sol dardejou os seus raios sobre a cabeça de Jonas, de forma que ele, desfalecido, desejou a morte e disse: «Melhor é para mim morrer do que viver.» Então Deus disse a Jonas: «Julgas tu que tens razão para te indignares por causa deste rícino?» Jonas respondeu: «Sim, tenho razão para me indignar até desejar a morte.» Disse-lhe Deus: «Sentes pena de um rícino que não te custou trabalho algum para o fazeres crescer, que nasceu numa noite, e numa noite pereceu! E não hei-de Eu compadecer-me da grande cidade de Nínive, onde há mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabem distinguir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e um grande número de animais?»
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