XXX DOMINGO TEMPO COMUM – ANO B
28 de Outubro de 2018
AS LEITURAS DO DIA
Jer 31, 7-9: Soltai brados de alegria por causa de Jacob.
Salmo 125: Senhor fez maravilhas em favor do seu povo
Heb 5, 1-6: Tu és meu Filho, Eu te gerei.
Evangelho Mc 10, 46-52: Filho de David tem piedade de mim.
A PALAVRA É MEDITADA
A longa viagem iniciada por Jesus em direcção a Cesareia de Filipe (8,27), para depois se dirigir para Jerusalém (10,32) está para se concluir. O evangelista Marcos assinalou progressivamente as suas etapas, mas de modo teológico mais que topográfico, preocupado sobretudo em inserir neste contexto uma longa série de instruções do mestre para os discípulos e a comunidade futura.
A cura do cego de Jericó serve de ligação entre a fase galileia do ministério de Jesus e a conclusiva em Jerusalém.
O milagre mostra a superação da inteligência dos discípulos, ainda cegos, através da vitória da fé, isto é da luz que não nasce da concepção messiânica triunfalista e terrena, mas sim, do drama da cruz.
O cego mendicante representa a humanidade que vive nas trevas da ignorância e do pecado. Só reconhecendo Jesus "Filho de David" é possível voltar a adquirir a vista, para o poder seguir pelo caminho do sofrimento e do martírio. O cego torna-se assim "o modelo de um intrépido defensor da fé e de um discípulo que segue Jesus até à morte".
O caminho da fé do cego Bartimeu, os seus obstáculos, internos e externos, são postos mais em luz. E portanto também os nossos.
O cego não vê Jesus, não o reconhece, só ouve falar dele, quer “vê-lo”! Aqui "readquirir a vista" quer dizer "ver Jesus", mas ver Jesus significa "renascer para vista". Por isso o cego se agita e grita sempre mais forte "Filho de David, tem piedade de mim".
A fé é antes de mais "grito", "invocação" para aquele que não se vê, para que se readquira o olhar sobre a medida e sobre as cores da vida quotidiana. A fé é invocação à misericórdia do "Filho de David" para que cure o nosso olhar daquelas coisas que consideramos só como as únicas necessárias escurecendo o além das próprias coisas, e contudo tragicamente insuficientes para preencher o nosso coração e a vida.
Desta invocação e deste grito é testemunho a oração daquele cego que se aninha dentro de nós.
Depois existem os obstáculos externos: o de muitos que dificultam a nossa invocação, que "ralham" o nosso desejo, e o lançam para o imediato, o que cativa, o agradável do "aqui e agora".
Certamente, a fé pode ser invocação sufocada também pelo exterior, pelo "todos fazem assim" a que até a maioria pode prestar crédito. A invocação da fé é certamente um grito insuportável, mas Bartimeu e, nele também nós, temos necessidade de ser ligado pela misericórdia de Deus e de fazer dela uma alegre experiência.
À invocação da fé segue-se o "chamamento". Jesus pára e manda-o chamar. Aqueles mesmos que antes lhe tinham ralhado, agora dizem: "Coragem! Levanta-te, está a chamar-te". O chamamento é um facto pessoal. Eis então o elemento fundamental de todo o episódio: a troca dialógica entre Jesus e o cego.
Da una parte Gesù che chiama, proprio lui in persona (è molto bello vedere la folla-comunità che diventa voce di Gesù in questa chiamata); Dall'altra la prontezza del cieco che butta via il mantello della sua sicurezza, dove raccoglieva i dono della carità, balza in piedi e va da Gesù.
Mas não basta. O chamamento deve tornar-se encontro pessoal, deve-se passar do dom ao dador, ainda mais se deve passar através do dom (a vista) ao encontro (a visão). Está aqui compendiada a fé como encontro pessoal, como passagem do ver Àquele que se manifesta.
A fé que salva, que faz encontrar Jesus como aquele que cura e também a fé que "segue". Este cruzamento entre fé e seguimento é da máxima importância. Uma fé que encontrou pessoalmente o Senhor torna-se capaz de o atestar aos outros. Esta é a verdadeira cura.
Este então é o sentido último do "milagre" do Evangelho de hoje: tornar possível o seguimento, criar a figura cristã do crente, o discípulo. Desde aquele dia o "cego que vê" torna-se o "cego que segue" o Senhor, Caminho, sobre a estrada de Jerusalém.
A PALAVRA É REZADA
Aquele cego sentado à beira do caminho
gritou-te a sua misera condição
e tu, Senhor, curaste-o.
Passo também eu, Senhor, pelos passeios da cidade,
e olhando para quem os ocupa,
dá-me vontade de tapar o nariz
e fechar os olhos.
Por cima deles está tudo isto que nunca quereria encontrar.
Há um sem abrigo que dorme e a cigana coma criança ao colo
que pede dinheiro.
Há o jovem com os olhos lunáticos que fuma uma pirisca
e uma mulher que se vende.
Há um grande chapéu sujo e rasgado
Perto de uma rapariga despenteada e seminua.
Existem os espectadores que espreitam,
Prontos a arrancar a carteira a quem está distraído.
A quem toca, Senhor, tomar a peito
Aquilo que existe nos passeios da cidade?
A resposta que me vem é fácil: toca às instituições.
Diante do cego não pretendeste que outros interviessem
e resolveste o problema.
A consequência é que diante dos males
que existem nos passeios da cidade,
é posta em causa a minha responsabilidade
porque a mim, como cristão, ó Senhor,
confiaste a tarefa de fazer aquilo que não fazem os outros.
Toca a mim, no máximo das minhas possibilidades,
fazer alguma coisa para que voltem a ser belos
também os passeios da cidade,
sem mais sinais de degradação e de miséria.
Sou cristão para isto!
Ámen.
(In Qumran, e La Chiesa: tradução livre de fr. José Augusto)