II DOMINGO DA QUARESMA
12 de Março de 2017
ANO A
AS LEITURAS DO DIA
Gén 12, 1-4: Farei de ti uma grande nação.
Salmo 32: Esperamos, Senhor, na vossa misericórdia.
2 Tim 1, 8-10: Ele salvou-nos e chamu-nos à santidade.
Evangelho Mt 17, 1-9: Este é o meu Filho muito amado.
A PALAVRA É MEDITADA
Jesus transfigura-se: as vestes cândidas e o rosto resplandecente colocam-nos na direção do Filho do homem de Daniel, glorioso e vencedor, e revelam-nos que Jesus, encaminhando-se para a Cruz, é na realidade o Senhor, é o Ressuscitado. O caminho que Jesus está a percorrer esconde um significado pascal. Mas trata-se de uma antecipação rápida e provisória: a estrada a percorrer é ainda a da Cruz. E de facto, os três discípulos prediletos, chamados a ver antecipadamente a glória de Jesus, são os mesmos que no Getsémani, serão chamados a ver a sua fraqueza.
A transfiguração não é apenas a revelação da identidade profunda de Jesus e do seu caminho. É ao mesmo tempo uma revelação da identidade do discípulo. O caminho do discípulo é igualmente encaminhado para a cruz e a ressurreição. No caminho da fé não faltam momentos claros, alegres, dentro da fadiga da existência cristã. É preciso sabê-los perceber e sabê-los ler. O seu carácter é porém fugaz e provisório, e o discípulo deve aprender a contentar-se. Não são o definitivo, a meta, mas apenas uma sua antecipação profética.
Moisés e Elias são personagens particularmente qualificadas a conversar com Jesus no seu caminho. Moisés guiou o povo de Deus na passagem do Egipto para a terra prometida. Chamado por Deus a guiar a marcha de Israel para a liberdade, experimentou continuamente a amargura da contestação e do abandono; e morreu às portas da terra prometida, sem ter a satisfação de entrar nela. Mas Moisés nunca desfaleceu na sua fé. Elias - profeta entre os mais persistentes, intolerante com toda a forma de idolatria e da corrupção do governo – conheceu a fuga, do deserto e da solidão, mas também a alegria da presença do Senhor e o conforto da sua palavra.
Jesus encaminha-se para a Cruz, mas é o profeta definitivo, a última palavra de Deus: «escutai-o».
A atitude fundamental do seu discípulo é a escuta.
«Levantando os olhos não viram mais ninguém, a não ser Jesus sozinho»: o discípulo não vê mais a glória do Senhor Jesus, resta-lhe porém o Jesus terreno e resta-lhe a palavra da voz que lhe explica quem Ele é. Não se trata de uma palavra que transmite noções quaisquer. Conta quem é Deus, quem somos nós, e qual é o sentido da história em que vivemos. Portanto uma palavra que indica aquilo que devemos fazer e como devemos interpretar as coisas que acontecem. Não resta mias que escutá-la com coração atento, obediência e conversão. Esta é a fé. E esta é a única estrada que conduz à Páscoa.
A PALAVRA É REZADA
Senhor Jesus, para manifestar a tua verdadeira identidade
escolhes a teofania.
Escolhes um monte alto, símbolo da proximidade com o Pai.
Escolhes a solidão e o isolamento.
Não pretendes impressionar nem a multidão nem os teus.
Transfigurando-te revelas a tua dimensão ultraterrena
e divina, e o teu Pai convida os discípulos a acolher-te e a seguir-te,
deixando os seus medos, as suas dúvidas, as suas incertezas.
Também nós somos chamados a dar prova da nossa confiança em ti,
mesmo quando parece que as nossas esperas fiquem desiludidas
e o mundo seja dilacerado pelo egoísmo e pela avidez.
A Palavra de salvação a fazer-se estrada nos nossos corações,
Porque é sufocada pelas ervas daninhas
e é enfraquecida por raízes magras.
Rompe, Senhor Jesus, as nossas resistências, anula os nossos medos,
ajuda-nos a ser cristãos até ao fim, até ao cimo do monte.
Ámen.
(In Qumran, e La Chiesa: tradução livre de fr. José Augusto)